Fim de semana passado fui ao cinema assistir ao relançamento de TITANIC que, depois de 14 anos, retorna aos
cinemas no aniversário de 100 da tragédia que matou mais de 1500 pessoas.
TITANIC é o filme que mais vezes vi no
cinema: 9 vezes. A primeira vez que assisti foi na sessão inicial de 13:00 no dia que estreou no Brasil, no final
de janeiro de 1998. A sessão estava vazia e acho que a
melhor palavra para descrever a sensação que eu e todos os
espectadores tiveram ao final da sessão é "devastado". Posteriormente, assisti a TITANIC
mais 8 vezes (incluindo um dia em que vi o filme 3 vezes seguidas, nos áureos tempos do cinema de rua em que bastava continuar
sentado para pegar mais uma sessão).
Confesso que , além de adorar TITANIC, o que me
fazia voltar às sessões do filme de James Cameron era o prazer de perceber as
reações do público. Não importava a diferença de idade, classe social e gênero, as pessoas tinham as
mesmas reações nas cenas-chave: todos riam
das cusparadas de Rose, todos prendiam a respiração à medida que o navio afundava, todos tinham os olhos cheios
d'água com a morte de Jack. Se
alguns chamam a isso de manipulação, eu acredito que não existe nada mais significativo no cinema como experiência - uma atividade próxima da comunhão religiosa.
Portanto, exatamente na décima vez que ia assistir a
TITANIC nos cinemas, tinha que fazer em grande estilo: fui assistir na sala
IMAX 3D que tem aqui no Rio de Janeiro. E tenho que dizer que, mesmo o preço sendo pra lá de salgado, valeu cada
centavo. Primeiramente porque o filme não envelheceu em nada, e em
segundo lugar porque assistir àquelas cenas grandiosas em uma
tela idem, vale qualquer preço.
James Cameron é mesmo o Cecil B. De Mille do
nosso tempo: na narrativa não inova muito, mesmo
trabalhando os clichês como ninguém; e no apuro técnico, é imbatível. Depois de ter mudado o
cinema (como arte e indústria) em AVATAR, Cameron faz
uma bastante competente conversão de TITANIC para 3D.
Primeiramente porque prefere o estilo de exibição em que a imagem ganha profundidade,
ao invés de ficar fazendo as coisas
pularem da tela o tempo todo. Assim sendo, todas as cenas em que o navio é mostrado do alto com o mar embaixo, a sensação que dá é que realmente existe um oceano por detrás da tela. Na cena em que Jack e Rose se encontram pela
primeira vez, quando ela tenta pular do navio, cheguei a ficar com vertigem.

Assistir ao filme pela primeira vez depois de muito tempo
(tirando umas muitas vezes que vi em fita VHS) também me fez perceber certas
coisas que não havia notado ou dado a
devida importância. Por exemplo, a qualidade
do elenco, em especial o coadjuvante. É que o filme pertence a
Leonardo DiCaprio e Kate Winslet - ele no auge da beleza e extremamente carismático, ela ingênua na sua rebeldia feminista
típica das protagonistas de Cameron. Contudo, alguns atores
em poucas aparições tem cenas que são
verdadeiras jóias. Frances Fisher como a mãe de Rose, por
exemplo, parece saída de uma romance de Edith Wharton. Na cena em que aperta o corpete da filha e diz que a família perdeu tudo ("você quer que eu vire uma costureira?"), consegue dar uma dimensão maior a uma personagem que poderia uma mera vilã de folhetim (o que acontece com Billy Zane, aliás). Bernard Hill e Victor Garber,
como o capitão e engenheiro do navio, respectivamente, também tem
poucas mas marcantes cenas. Ver o orgulho dos dois se tornar uma espécie
de loucura é de quebrar o coração. Além disso, uma das minhas cenas
favoritas envolve Bruce Ismay (Jonathan Hyde), o idealizador do
Titanic, quando ele covardemente pula para dentro de um bote
salva-vidas: filmado em contraplano, o barco começa a descer ao mesmo
tempo em que ele fecha os olhos e a música toca, num dos mais fortes
exemplos de humilhação que vi no cinema.
Outra coisa que me chamou a atenção dessa vez é como, de certa forma,
James Cameron preenche o filme de um certo tom fúnebre desde o início,
como se a morte (e não o amor adolescente de Jack e Rose) fosse o
assunto principal do filme. Afinal de contas, não podemos nos esquecer
que o casal apaixonado se encontra pela primeira vez quando Rose está
tentando o suicídio. Além disso, ao final da cena romântica central do
filme ("Jack, I'm flying"), acontece a transição para o Titanic
destruído e submerso, imagem mais do que fúnebre. E mesmo a cena final
do filme, visto por muitos como um final feliz forçado entre Jack e
Rose, pode ser interpretado como a morte da protagonista e seu encontro
com Jack (e outros tripulantes) no mundo dos mortos.
Para terminar, antes de ir embora, eu olhei pra tela com os olhos marejados e pensei: "Catorze anos se passaram e esse filme
continua emocionante. É um clássico.". THE END.