13 de novembro de 2011

iHate WEEKEND²


Desencorajado por um amigo que argumentou ser mais um gaymovie superficial confesso que fui assistir ao filme sem muitas expectativas. Surpresa, é verdade que tal história já foi contada um sem número de vezes - duas pessoas se conhecem, se sentem atraídas, passam um tempo juntas e tem de lidar com os problemas e crises no relacionamento -, mas no cinema contemporâneo dificilmente se vê algo com o frescor e honestidade de WEEKEND, o primeiro filme do diretor inglês Andrew Haigh.

Chamado em alguns circuitos de o "ANTES DO AMANHECER gay", WEEKEND mostra o período (que o título indica) em que Russell (Tom Cullen) e Glen (Chris New) passam juntos. Russel conhece Glen em um bar e os dois logo em seguida já estão acordando depois de uma noite de sexo. O que poderia parecer um mero one night stand acaba se tornando algo mais, primeiramente quando Glen pede que Russell o ajude em um projeto de arte que está desenvolvendo: trata-se simplesmente de um relato gravado em áudio sobre como eles se encontraram. A partir dessa premissa, os dois passam a se ver mais vezes, conversando sobre variados assuntos, comsumindo drogas e também transando.

Há claramente uma inspiração em ANTES DO AMANHECER (e em Eric Rohmer antes dele) na concepção de um enredo simples, onde um casal fica conversando praticamente o filme inteiro até um final decisivo. Porém, WEEKEND tem não só os ricos diálogos entre os dois personagens como foco, mas também toda o pano de fundo social, político e emocional no qual estão inseridos.

Geralmente com filmes em que os protagonistas são gays há uma tendência em dizer como elogio que "é uma história universal". Isso sem dúvida é verdade para WEEKEND - mas há também um forte elemento político com relação ao embate entre os discursos homossexual e o heterossexual que saíram do cotidiano, entraram no terreno dos estudos culturais, e retornaram ao dia a dia. Glen é um personagem bastante politizado, nunca se coibindo de participar de discussões envolvendo os direitos homossexuais (abertamente a favor) ou o casamento gay (totalmente contra). Já Russell, mais tímido e não totalmente fora do armário, tem uma postura mais romântica e acredita que possa existir felicidade para os gays em um relacionamento oficializado. É notável a fluidez com que o diretor e roteirista Andrew Haigh mescla o contraste de opiniões políticas dos protagonistas com outras notórias diferenças entre os dois, especialmente de cunho social - Glen é estudioso de arte e tem maior nível cultural, enquanto Russell é salva-vidas em uma piscina pública e mora em um apartamento no subúrbio.

O estilo cinema verité da produção, hoje tão em moda e que, paradoxalmente, acaba soando artificial muitas vezes, consiste em uma das maiores virtudes de WEEKEND. Muitas vezes a câmera fica à distância, meio desfocada, ou por entre grades, como se estivéssemos ao longe vendo o desenrolar da história de amor daqueles dois homens (e a atuação dos protagonistas é de uma naturalidade que impressiona). A mescla entre cortes rápidos e longas cenas também é um achado, o que dá um intenso realismo a diversas cenas. Mesmo assim, o filme tem momentos interessantes de auto-reflexão, especialmente quando os personagens comentam sobre a reação do público hetero e homo ao assistir a um filme com gays, e também com relação a finais clichês que personagens gays geralmente tem no cinema.

Um dos melhores filmes do ano, e pra concluir o final arrasador, ainda tem uma das músicas mais lindas de John Grant-o novo Rufus Wainwright - nos créditos finais. Imperdível.

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