8 de abril de 2013

iHate Louco por Mads



Volta e meia surge um ator que, fora do circuitão hollywoodiano, alia um talento absurdo a ótimas escolhas de carreira para se tornar um nome quente no cinema e entrar na minha lista de favoritos. Foi assim com Tony Leung Joseph Gordon-Levitt, por exemplo. O caso mais recente, contudo, é o de Mads Mikkelsen.

Nascido na Dinamarca, Mikkelsen já tinha chamado atenção em ótimos filmes dos também nórdicos Nicolas Winding Refn e Susanne Bier. Em Hollywood, teve a honra de fazer o primeiro vilão da série 007 com Daniel Craig - e quem viu a cena da tortura de James Bond em CASSINO ROYALE sabe do que o cara é capaz. No fraco FÚRIA DE TITÃS, em meio a um elenco no automático, Mikkelsen parecia estar em um filme muito melhor devido à qualidade de sua atuação. 

Recentemente, assisti a duas excelentes obras em que Mads Mikkelsen mostra não só sua versatilidade mas também o ótimo faro para a escolha de papéis. A primeira é A CAÇA, excelente drama opressivo de Thomas Vinterberg, e O AMANTE DA RAINHA, filme histórico que foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro esse ano.


A CAÇA conta a história de um professor de uma creche (Mikkelsen) que cai numa espiral de desgraça quando uma criança afirma ter visto o "pipi" dele - está evidente o abuso sexual. A partir de uma sutil porém notável reflexão sobre uma fé nórdica na honestidade dos indivíduos (especialmente crianças), A CAÇA denota como a culpa de algo tão horrível só pode ser genuína. Afinal de contas, quem mentiria ou inventaria um dos crimes hediondos que pode existir? Vinterberg usa de metáforas interessantes para ilustrar a situação terrível em que se encontra o professor, da inabilidade de se pisar em rachaduras (uma espécie de TOC que a menininha acusadora tem) até a tradicional cultura de caça presente na Dinamarca. Mikkelsen representa de forma pungente a exclusão social (por vezes através da violência) a que o professor é submetido e a dor de ser visto como vilão por um uma comunidade mais vilanesca do que ele. 




A vilania também pode ser vista como uma das temáticas principais de O AMANTE DA RAINHA, um filme tão inteligente que, fingindo ser uma história de amor, apresenta uma das mais maduras discussões políticas do cinema recente. Baseado em fatos reais, o filme de Nikolaj Arcel mostra a relação amorosa entre Caroline, a rainha da Dinamarca, com Johann, o médico do rei Christian, monarca este que era considerado louco. A princípio, O AMANTE DA RAINHA parece seguir a cartilha dos costume dramas tradicionais, com uma história de amor proibido, uma família real conservadora, a necessidade da liberdade feminina e uma direção de arte/figurinos de cair o queixo. Porém, é quando o roteiro decide explorar mais a fundo o caráter dos personagens a partir das extraordinárias mudanças de pensamento que ocorriam no século XVIII - estamos falando do Iluminismo - que o enredo se torna fenomenal.

É interessante notar que os supostos "vilões" e "heróis" trocam de papéis durante o filme, e em certos momentos fica a dúvida se a narrativa realmente está a favor de um discurso liberal ou conservador, deixando para o espectador a questão sobre os limites de uma suposta "moralidade" com o intuito de alcançar um bem comum. Essa complexidade, porém, não seria possível sem a sintonia perfeita do trio de protagonistas: Alicia Vikander (que já chamou atenção em ANNA KARENINA) como a rainha consegue o tom perfeito de rebeldia e inocência; Mikkel Boe Folsgard, como o rei, consegue a façanha de interpretar o papel sem que tenhamos certeza de sua loucura (e as inúmeras referências a "Hamlet" são perfeitas); e Mads Mikkelsen, como o médico e depois ditador, consegue com um mero olhar traçar a diferença entre idealista e déspota. 


Mikkelsen agora tem um novo desafio: viver ninguém menos que Hannibal Lecter na série de TV HANNIBAL, que estreia este mês. Eu não perco por nada.

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