iHate EIKO ISHIOKA

Essa semana foi surpreendido pela notícia da morte de Eiko Ishioka, uma das mais criativas figurinistas e designer de produção do showbiz. Nascida no Japão, Ishioka tinha seu trabalho reconhecido no teatro, em videoclipes, em shows e especialmente no cinema.

No clique abaixo, alguns dos meus trabalhos favoritos dessa grande artista cujo talento infelizmente não vamos poder mais desfrutar.



O trabalho mais famoso de Eiko Sihioka é, sem dúvida, o design dos figurinos do DRÁCULA de Francis Ford Coppola, pelo qual recebeu o Oscar. Assistir aos extras do dvd ou bluray desse filme mostra muito bem o tipo de ideias que Coppola tinha em mente para a adaptação do romance de Bram Stoker. Em uma famosa frase, o diretor diz que queria que "as roupas fossem os sets", e por isso procurou o trabalho de Eiko Ishioka. O trabalho da artista já era bastante reconhecido no Japão, mas trabalhar com Coppola fez com ela se tornasse famosa no Ocidente.

A característica principal do trabalho de Ishioka é a teatralidade de todas as suas peças, sempre remetendo a figuras da natureza ou da própria arte. Em geral, suas roupas chamam imediatamente a atenção e nunca fazem apenas parte do pano de fundo - elas são parte inerente do espetáculo visual do filme. Eu me lembro quando vi o DRÁCULA de Coppola, criança ainda, e aquela armadura vermelha usada pelo Gary Oldman era diferente de tudo que eu já tinha visto. Como era possível uma armadura vermelha?

Todo o figurino do Conde Drácula é único, desde o casaco com sua gigantesca cauda vermelha até o robe dourado que remete ao quadro "O Beijo" de Klimt. Mas, ao menos pra mim, a peça de figurino mais impressionante é o vestido de casamento de Lucy (Sadie Frost). Ishioka disse que sua inspiração foi em uma espécie de lagarto, mas também é possível perceber outras referências nessa roupa, desde (novamente) Klimt, vestuário inglês do século XV e até mesmo um palhaço maligno.

O filme ainda tem outras peças de figurino marcantes, como a camisa de força usada por Tom Waits, o vestido laranja que Lucy usa quanda é violentada por Drácula e aquele terno cinza vitoriano que Gary Oldman enche de charme.

 

Depois de DRÁCULA, Eiko Ishioka estabeleceu uma sólida parceria com o diretor Tarsem Singh, trabalhando em quatro filmes do diretor indiano. Para o primeiro deles, A CELA, Ishioka desenhou figurinos que procuravam captar o inconsciente de um psicopata numa viagem que incluía referências religiosas e imagens monstruosas.

 

 

Depois, em DUBLÊ DE ANJO, novamente combinou sua veia teatral com o universo onírico de Singh, dessa vez deixando mais claras as referências à cultura japonesa em seu trabalho.

Seu terceiro trabalho com Singh foi no recente IMORTAIS, onde os deuses do Olimpo foram carnavalizados. A armadura de guerra do personagem de Mickey Rourke, contudo, era um ponto alto desse filme pavoroso.

 

O último trabalho de Eiko Ishioka será visto esse ano em mais um filme de Tarsem Singh, ESPELHO, ESPELHO MEU, uma das releituras da história de Branca de Neve que vai sair esse ano. Como o filme tem tom de fábula e é voltado para o público infanto-juvenil, é interessante ver como Ishioka brinca com essas referências no figurino (o chapéu de cisne é muito divertido). E Julia Roberts nasceu pra usar aqueles vestidos espetaculares.

 

Nos palcos, os trabalhos mais famosos de Ishioka são na turnê "Hurricane" de Grace Jones, com figurinos futuristas que são uma obra de arte em si...

 

...e no musical da Broadway Turn Off the Dark, ao reimaginar o Homem-Aranha e o Duende Verde para o novo milênio.

 

No terreno do videoclipe, Ishioka também dirigiu o impressionante videoclipe de "Cocoon", de Bjork, cujo conceito mais se aparece com uma instalação de arte contemporânea do que algo que se vê na MTV. 

 

Meu sonho era ver Ishioka trabalhando com Tim Burton, mas infelizmente isso não foi possível. O mundo perdeu uma grande artista.